quinta-feira, maio 08, 2003

Sobre o pronunciamento do Sr. Deputado Coronel Ubiratan na 13ª Sessão Ordinária da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, em 02/04/2003.

Assim como o Silney respondeu na lista de emails, também acho que o Coronel tocou em questões complicadas e, em boa parte delas, a minha posição a respeito é muito semelhante à dele.

É bem verdade que o filme Carandiru, assim como o livro em que foi baseado, expõe apenas o ponto de vista do médico, que, por sua vez, foi construído com base apenas nas histórias dos presos e no seu dia-a-dia num local a que nenhum outro homem livre teve acesso. Isto é claramente anunciado tanto no livro quanto no filme. Acho que no livro é no começo mesmo, não estou certo. No filme, o aviso vem no fim, antes dos letreiros. Faz todo o sentido - a arte do cinema funciona melhor quando o espectador não tem pré-julgamentos.

E por falar em pré-julgamentos, discordo do Coronel quanto critica o fato de que o filme erra ao só mostrar um lado. Um filme é um filme é um filme. E seus realizadores têm todo o direito de mostrar o que quiserem, verdades parciais, mentiras... desde que sejam claros quanto a seus objetivos. E o deste filme é mostrar um lado, o mesmo que é mostrado no livro.

Por outro lado, mas ainda falando de pré-julgamentos, quase nada no mundo é 8 ou 80, e como há ainda processos em andamento, concordo com o Coronel quando ele diz recear que o filme influencie o julgamento destes processos, de maneira visivelmente tendenciosa. Acho que a arte é livre, mas as pessoas que praticam esta liberdade devem levar em conta seus efeitos. Se a intenção do Babenco era usar seu poder de comunicação para inluenciar estes processos, ele pode ter conseguido, ao menos tentou. Mas se fez o filme sem pensar nesta questão, então ele errou.

No mais, concordo com o Deputado Coronel, em tudo o que diz neste pronunciamento (segundo a transcrição que recebi), especialmente quanto ao alvoroço da mídia sobre a dor de barriga do Beira-Mar e o descaso da mesma com a situação lamentável de tantas crianças e adultos, jovens e velhos... Na verdade, muito me preocupa o foco de atenção de todas as instâncias do poder público, até a presidência, com este e tantos outros marginais, quando a maioria destas instâncias deveria estar fazendo o seu trabalho, com a certeza de que as instituições apropriadas estariam cuidando da marginalidade.

Nenhum comentário: