quinta-feira, junho 26, 2003

Nova interface do Blogger

Finalmente o Blogger transferiu o C.N.B. para a nova interface!

As duas principais novidades são:

- um campo para dar títulos aos posts, que aparecem com formatação especial;

- A possibilidade de mandar os posts novos por email a um endereço. Já configurei o brioco@coollist.com. Agora tudo que for postado lá (ou aqui, dependendo de onde você estiver lendo) será automaticamente redirecionado para a lista.

Dessa forma o Bloglet perde um pouco da utilidade. Mas continua valendo para quem quer ser avisado de atualizações no Brioco mas não assina a lista.

terça-feira, junho 17, 2003

Curvas e Retas
Não basta fazermos tudo da melhor maneira possível. Não basta, não satisfaz, não a mim, nem a muitos. Não basta um único gole ou trago, não nos bastam as parcas emoções que são traduções de um tempo "livre", não basta. Eu invejo e repudio aqueles que fingem que são plenos, que fingem se bastarem, que simulam uma independência entre suas vidas e a loucura que vislumbro todo dia. Não basta, coça MUUUUito, uma coceira que toleramos como aquela que ocorre a uma perna engessada: seguramos algum tempo, não prá sempre.
Não sei se o Curvilíneo é o oposto do Retilíneo, acho que existe toda a sorte de formatos antes e depois dos dois Arquétipos mencionados pelo Durval e rebatidos pelo Maurécio. Mas é inegável que tem um tipinho que finge, mais ou menos, que aquilo basta, que larga o corpo na onda e se deixa levar, na loucura da tradição que abrevia a vida ou na loucura da vida breve que aparentemente rompem com a tradição.
Será que temos sempre que nos auto-definir? Não basta fazermos nosso caminho da melhor maneira possível aos nossos olhos, à luz daquilo que conseguimos reter de bons e úteis ensinamentos, no caminho que já trilhamos?
Além do mais essa coisa de curvilíneo me lembra muito a mania por estereótipos e, como tudo na vida, inclusive o tempo e o espaço, é relativa. Nos momentos mais lúcidos (que eu acho mais lúcidos), olho para trás e vejo uma trajetória absolutamente reta, mas transportando-me para qualquer ponto fora de mim mesmo, vejo uma curva. Acredito que o que você quer dizer com "retílineo" seja o tipo de sujeito que nem imagina que existam pontos fora de si, a partir dos quais sua história de retidão possa ser vista como a mais torpe e insidiosa espiral em direção ao fogo dantesco.

segunda-feira, junho 16, 2003

Durval, o curvilíneo light

A esta altura vocês devem estar ansiosíssimos por saber como me auto-classifico nessa minha taxonomia particular. Já disse no título: curvilíneo, sim, mas ligth.

Sou curvilíneo por parte de mãe, e retilíneo por parte de pai. E como não é possível existir uma linha quase reta, sou um curvilíneo light.

Pronto, já satisfiz sua curiosidade.

Gabor, o falso retilíneo

Os curvilíneos não são necessariamente pessoas tristes, mas não há dúvida de que são mais felizes que os falsos retilíneos. Gabor é um deles.

Até pouco tempo, era um poço de curvilineidade, para desespero da sua família tradicional húngara.

Entrou em três faculdades de carreiras diferentes, e desistiu de todas antes de se formar. Fez dezenas de terapias, ortodoxas e heterodoxas, mas preferia não recomendar nenhuma. Só se apaixonava por meninas fora da colônia, e chegou a defender abertamente a causa palestina. Por alguns anos tornou-se vegetariano, e trocava as férias em resorts do Nordeste com a família por acampamentos em praias de nudismo do Sul.

Como se dava bem com informática, fez alguns cursos de programação e arranjou um emprego de nível técnico no departamento de processamento de dados de uma firma de contabilidade. Foi morar sozinho aos dezenove anos, num quarto-e-sala na Vila Madalena que comprou com uma herança recebida da avó, livrando-se finalmente de sua super-mãe húngara.

Aquela época foi talvez a mais feliz para Gabor. Apesar de uma certa solidão auto-imposta, sentia que estava livre para "curvar-se" à vontade. Comprou um violão, e passava muito tempo na varanda com vista para a Rua Purpurina dedilhando acordes recém-aprendidos das revistinhas. Entrou para um coral, e teve um relacionamento relâmpago com uma dançarina de flamenco que conheceu lá, de quem lembra sempre.

Viveu assim até trinta e tantos anos. Até que se cansou de andar em círculos, ou melhor, em curvas sinuosas e emaranhadas, que não o estavam levando a lugar nenhum, enquanto seus amigos já iam longe em suas trajetórias retas. Essa frustração parecia fazer piorar sua gagueira, problema de infância que tinha diminuído com o tempo, e que voltara com força.

Então casou-se com uma menina que conheceu no Clube Húngaro, amiga de uma prima sua, filha de um poderoso empresário. Mandou blindar o carro, como era praxe na família da esposa; eles até tinham desconto pela quantidade de encomendas. Aceitou um cargo de gerência na indústria de produtos pneumáticos do pai. É bom porque ele pode voltar mais cedo pra casa, e se dedicar ao seu hobby atual - jogar xadrez pela internet. Comprou um apartamento num condomínio com sala de ginástica e piscina aquecida, que ele não frequenta porque as do Clube Húngaro são melhores. O sala-e-quarto da Vila Madalena está alugado, e rende uns troquinhos por mês. Ele ainda tem o violão, dormindo dentro de uma capa de curvim, num canto da sala entre o home-theater e a piscina de bolinhas do filhinho. A gagueira, pode-se dizer, melhorou. Agora quando ela ameaça atacar, Gabor simplesmente para de falar, até que passe.

Arthurman, o retilíneo

Arthurman, the super-account-manager-business-senior-consultant, é um retilíneo convicto e bem sucedido. Experimentou algumas curvas na juventude, mas foi só para poder alegar imparcialidade na hora de defender a retilineidade que tanto prega.

Cortou o cabelo, vendeu o piano, e formou-se pela GV, com master business administration nos EUA. Orgulha-se de ser um self-made, e é constantemente assediado por head-hunters. Depois de uma década na área de supply chain, aceitou um cargo desafiador numa dotcom, trabalhando em novos projetos de e-commerce.

Diz-se enólogo amador, e frequenta um bistrô super-aconchegante da região da Berrini durante as happy-hours, onde consegue descolar excelentes safras de Bordeaux, que beberica enquanto acompanha as variações da Nasdaq e Dow-Jones pelo laptop (Intel Inside).

Conseguiu finalmente dar entrada num loft bem perto do business center onde trabalha. Se continuar recebendo productivity rewards como tem recebido, em breve vai poder realizar seu grande sonho: abrir o próprio negócio, uma adega on-line.

Arthurman chegou a comprar um novo piano recentemente, mas vendeu um mês depois, porque estava sem tempo de praticar. Além do mais, ele não combinaria com a decoração clean pretendida para o loft, que só fica pronto em 2004, mas ele já sabe exatamente quais móveis vai colocar.

sexta-feira, junho 13, 2003

Os Retilíneos

O termo foi empregado pela primeira vez com esse significado durante um papo com o Babel, e foi adotado por algumas pessoas do nosso círculo. Usamos para designar indivíduos que seguem à risca os scripts que receberam do mundo externo, sem nenhum desvio.

E nesse conceito não está implícito nenhum juízo de valor. Ser retilíneo em geral não é opção; a gente já nasce assim, ou não.

Os legítimos retilíneos são felizes, pois conseguem obter satisfação de coisas simples, como um novo aparelho de DVD ou um livro de Paulo Coelho. São plenamente integrados às suas famílias, têm um plano de carreira promissor, que inclui benefícios e promoções a intervalos regulares, são heterossexuais e casam-se com pessoas também retilíneas, raramente se separam, têm 2 filhos saudáveis, não usam drogas, praticam exercícios físicos e assistem bastante TV. Costumam dar muita risada de piadas de salão, e alguns são muito talentosos ao contá-las.

Às vezes os retilíneos experimentam alguma ansiedade ao serem abordados por mendigos nos semáforos, mas não é nada que dure mais que o tempo de um sinal vermelho.

Esse felizardos desenvolveram mecanismos eficazes contra as dúvidas, e as frustrações que delas possam advir. Não por possuírem todas as respostas, mas simplesmente por não fazerem perguntas complicadas. Os retilíneos não "polemizam". Têm anticorpos contra problemas que não sejam os seus, e uma habilidade notável para classificar a maioria deles nessa categoria (não-seus). Sobram alguns poucos problemas para eles, mas as respostas estão todas prontas lá no script; é só questão de consultar, como quando se quer programar o videocassete e a gente lê o manual.

Os retilíneos vêm com manual ao nascerem.

quinta-feira, junho 12, 2003

Os Tubarões e o Homens


Os homens construíram um porto. Para isso, desviaram o curso de rios, fazendo com que manguezais secassem.

Sem manguezais, os peixes sumiram. Sem peixes, os tubarões ficaram famintos e furiosos.

Resolveram os dois problemas - a fome e a fúria - de uma vez só.

Passaram a comer homens.

quarta-feira, junho 11, 2003

Sinos Dobram

Por quem chorarei? Quem me fará derramar lágrimas em seu velório? Das centenas de pessoas que conheço, quais serão aquelas que me farão sentir um aperto enorme no peito, aquelas que me farão realmente falta quando da sua ausência?

Escrever isso me causou estranheza, estranheza fria, por ser verdade. No grupo dos que nada me causam, eu posso incluir próximos extremamente distantes. No grupo dos que me movem, incluo próximos extremamente recentes. Questiono o sentido de vínculo. Questiono o sentir, o sentimento em si, e, ao fazer isso, questiono a mim mesmo. Deixo de me encarar como ser humano íntegro, e me assumo como um apanhado de fragmentos de idéias mais ou menos completas. Uma realidade onde a Verdade deixou de existir. Tradição, aquilo que você traz, perde parte de seu significado "trazido" - a bagagem muda, nada será como antes, nunca mais.

sexta-feira, junho 06, 2003

O futuro não é mais como era antigamente. Antigamente eu ahava que a vida começava aos 21, que com 21 eu seria perfeito de mente, de corpo, de grana, que eu seria menos reticiente, teria mais atitude, teria mais certezas. E eu tinha certeza de que seria dessa forma. Com o tempo, fui percebendo que minhas incertezas foram crescendo, crescendo... Entropia pura!!!! Acho que é isso que os adultos da minha infância teimavam chamar de sabedoria. Sabedoria é você ter vivenciado coisas demais e ter tentado tirar algumas conclusões dessas vivências. Sabedoria é perceber que a maioria das vivências devem ter sido inúteis, mas tinham que ser vividas por algum motivo, talvez simplesmente porque é assim que os seres vivos fazem - eles vivem.

Eu olho para meus pais, olho para meus avós e vejo a inexorável velhice ir se apoderando, pouco a pouco, de cada um. A velhice não se apodera só dos velhos, a velhice é o termo que usamos pra definir o tempo que está teoricamente mais próximo do final, mas no fundo é tudo tempo, é x vidas a menos no videogame... e a conclusão que tiro, olhando as vidas dos velhos próximos a mim continua sendo a mesma: estamos num barco, numa corredeira que não para, não seca nem congela. Podemos pescar durante o caminho, podemos por a mão na água, podemos desviar das pedras ou podemos não fazer nada.

quinta-feira, junho 05, 2003

"Quando vamos parar de repensar a matriz energética e, efetivamente, criar uma nova, mais adequada aos tempos atuais?"


Respondendo ao seu texto, Maurécio, acredito que em breve - quem trabalha com isso é o Daniel - Vejam o texto abaixo, retirado da folha (uma edição de maio):

TECNOLOGIA

Composto sintetizado por pesquisadores dos EUA armazena gás para uso em células de combustível de carros
Nova liga pode deflagrar era do hidrogênio

CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Uma nova categoria de material, produzido a baixo custo por uma reação simples de laboratório, pode ser exatamente o que a indústria estava esperando para acelerar a entrada no mercado de carros movidos a hidrogênio. Esse material, sintetizado por um grupo de químicos dos EUA, tem a capacidade de estocar grandes quantidades do gás em sua estrutura, em condições normais de temperatura e a baixa pressão.
O uso do hidrogênio em substituição ao petróleo é uma das grandes apostas para o futuro energético do planeta. A célula de combustível, uma espécie de pilha que processa hidrogênio gasoso para produzir eletricidade e água, é a esperança dos ambientalistas e de algumas empresas automobilísticas para a produção de carros "limpos". Com uma vantagem adicional: o hidrogênio (H2) é o elemento mais abundante do Universo.
Os problemas da anunciada "economia do hidrogênio" são basicamente três. Primeiro, o hidrogênio não existe livre na natureza -está combinado ao oxigênio ou a outros elementos. Depois, células de combustível são caras demais. Por fim, o hidrogênio gasoso é altamente inflamável e difícil de estocar com segurança em tanques de carro.
Em um estudo na edição de hoje da revista científica "Science" (www.sciencemag.org), uma equipe liderada por Nathaniel Rosi, da Universidade de Michigan, diz ter chegado perto de resolver o terceiro problema.
Eles criaram uma série de compostos organometálicos (com um metal, no caso zinco, associado a uma molécula orgânica) com a capacidade de estocar de 1% a 9,1% de seu peso em hidrogênio. A temperaturas altas, essa capacidade pode chegar a 17,2%. O H2 fica ligado temporariamente à estrutura e é liberado para a célula de combustível com um esquentamento leve ou com um pequeno alívio na pressão.
A meta mundial para que esse tipo de armazenagem tenha aplicação comercial é 6,5% do peso do composto em hidrogênio.
"Eu, se fosse uma companhia automobilística, estaria interessado na descoberta", disse à Folha o químico jordaniano-americano Omar Yaghi, da Universidade de Michigan, co-autor do estudo.
Yaghi diz que seu grupo trabalha há 12 anos com estruturas químicas capazes de absorver moléculas e liberá-las. Os compostos, batizados MOFs (ou estruturas organometálicas), foram desenhados sob medida pelos pesquisadores. Eles se parecem com cubos de arame, no interior dos quais moléculas de hidrogênio gasoso podem ficar armazenadas de maneira estável.
Outros compostos, como nanotubos de carbono e hidretos metálicos (ligas metálicas com hidrogênio), têm sido pesquisados para estocar o elemento. No Brasil, hidretos metálicos desenvolvidos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Unicamp já têm capacidades de estocagem de 4% e 3%, respectivamente.
"O problema dos hidretos é que, além de serem pesados demais, eles requerem muita energia para liberar o hidrogênio. E nanotubos só funcionam sob alta temperatura", disse Yaghi.
O pesquisador, cujo grupo trabalha com financiamento da empresa Basf, acredita que em um a dois anos deverá atingir o nível comercial de absorção de hidrogênio a temperatura ambiente. "Temos a chave para o que faz de um material um grande armazenador de hidrogênio", afirmou.
Vejam o Mundo Perfeito de hoje, ou a notícia no Terra Notícias (e em vários outros lugares).
Alguém tinha alguma dúvida de que esse, se não fosse o único motivo para a invasão, estava entre os principais e com destaque?
Por outro lado, vemos a importância dada ao combustível fossil, que sabemos ser limitado e extremamente poluente - além da concentração de capital que provoca. Nós, o Brasil, já éramos citados em 1982 no Ponto de Mutação, do Fritjof Capra, por nossas pesquisas e utilização do álcool combustível. Uma fonte de energia cujo ciclo (da absorção da energia solar até a obtenção do combustível em sua forma de utilização) é relativamente curto. Temos ainda várias outras possibilidades, principalmente quando pensamos globamente e agimos localmente: parques de energia eólia e solar, cujas produções não devem pretender suprir toda uma nação, mas apenas as redondezas de seu local de geração; outras formas de biomassa - além da cana, outros vegetais são propícios à obtenção de álcool e produtos interessantes; e o metano que pode ser obtido da fermentação do lixo orgânico e dos esgotos - dando ainda como subprouto, ótimos fertilizantes orgânicos.
Quando vamos parar de repensar a matriz energética e, efetivamente, criar uma nova, mais adequada aos tempos atuais?
Lembro-me de uma das primeiras coceiras, quando ainda nem tínhamos uma lista de discussão, apenas um email inicial e várias respostas com cópias para todo mundo. Falava sobre as recomendações de um delegado para diminuirmos o risco de assalto em semáforos de trânsito. Minha indignação foi o tolhimento da liberdade de ir e vir.
Hoje recebi um email sobre uma "nova modalidade de assalto", e recebi duas vezes:
"Você e seus amigos estão num bar, batendo papo, tomando uma cervejinha e se divertindo. De repente, chega um indivíduo e pergunta de quem é o carro tal, com placas tal, estacionado na rua, solicitando que o(a) mesmo(a) dê um pulinho lá fora para manobrar o carro, que está dificultando a saída de outro. Você, bastante solícito(a), vai e, ao chegar ao seu carro, anunciam o assalto e levam seu carro e mais pertences. E ainda tem sorte se não levar um tiro.Numa mesma noite o resgate da Polícia Militar atendeu três pessoas baleadas, todas envolvendo a mesma história. Repasse esta notícia para alertar seus amigos...não custa nada prevenir."
Bom, desta vez temos o abuso à boa vontade e, ainda, continuamos com a ineficácia do policiamento - que, de passagem, não é culpa exclusiva das instituições responsáveis, polícias e governos, mas também de toda uma estrrutura social que já não se suporta mais. Mas o mais importante é que se cada um de nós lembrar da velha máxima de não fazer aos outros aquilo que não gostaria que fizessem consigo, nós nunca estacionaremos nossos veículos de maneira a bloquear garagens ou impossibilitar as manobras de quem já está estacionado.

quarta-feira, junho 04, 2003

Hoje de manhã ouvi um belo absurdo naquele "Conexão Rio-São Paulo" da CBN.
Os caras disseram, acho que era o Pioto falando, que a quantidade de seqüestros relâmpago está muito acima do razoável.
Por Tutatis!! diria Asterix.... existe algum número positivo (ou seja, maior que ZERO) que seja uma quantidade razoável de ocorrências dessa natureza?