sexta-feira, junho 13, 2003

Os Retilíneos

O termo foi empregado pela primeira vez com esse significado durante um papo com o Babel, e foi adotado por algumas pessoas do nosso círculo. Usamos para designar indivíduos que seguem à risca os scripts que receberam do mundo externo, sem nenhum desvio.

E nesse conceito não está implícito nenhum juízo de valor. Ser retilíneo em geral não é opção; a gente já nasce assim, ou não.

Os legítimos retilíneos são felizes, pois conseguem obter satisfação de coisas simples, como um novo aparelho de DVD ou um livro de Paulo Coelho. São plenamente integrados às suas famílias, têm um plano de carreira promissor, que inclui benefícios e promoções a intervalos regulares, são heterossexuais e casam-se com pessoas também retilíneas, raramente se separam, têm 2 filhos saudáveis, não usam drogas, praticam exercícios físicos e assistem bastante TV. Costumam dar muita risada de piadas de salão, e alguns são muito talentosos ao contá-las.

Às vezes os retilíneos experimentam alguma ansiedade ao serem abordados por mendigos nos semáforos, mas não é nada que dure mais que o tempo de um sinal vermelho.

Esse felizardos desenvolveram mecanismos eficazes contra as dúvidas, e as frustrações que delas possam advir. Não por possuírem todas as respostas, mas simplesmente por não fazerem perguntas complicadas. Os retilíneos não "polemizam". Têm anticorpos contra problemas que não sejam os seus, e uma habilidade notável para classificar a maioria deles nessa categoria (não-seus). Sobram alguns poucos problemas para eles, mas as respostas estão todas prontas lá no script; é só questão de consultar, como quando se quer programar o videocassete e a gente lê o manual.

Os retilíneos vêm com manual ao nascerem.

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