segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Sem Saída

Não existe possibilidade de fuga. Nenhum devaneio, nenhum riso incontrolável, somente a sobriedade como droga. Somente a lucidez como parceira, e que parceira voraz! Nada da reconfortante sensação de estar na mesma sintonia. Sintonia exclusiva e redundante, uma onda de rádio única, irradiando solitária, ondas de um cérebro desnudo, ou por demais vestido. Ondas que parecem não encontrar espaço no dial, e que retornam ao emissor, transformando este num molestado e único ouvinte de si. Desliguem essa máquina de realidade real (e não virtual)! Devolvam a ele o direito de esquecer de fatos e de mentir pra si, fingindo-se satisfeito.

Fingindo-se satisfeito. Fingindo saciedade impossível, inatingível. A agonia de ser humano é querer mais sempre. E o que ameniza isso? Pílulas mágicas, beberagens milenares, vapores sórdidos, pós encantados, e há quem diga que alguns monges do Tibet, após muito pisar em brasas e deitar em pregos, hoje conseguem sublimar seu lado humano... e há quem diga que repetir muitas vezes as mesmas orações traga uma sensação de proximidade de Deus tal que diminui todo o resto - e coloca o orador do lado dos "bons", "esclarecidos" ou "crentes", em detrimento dos que "ainda" não chegaram lá ("Se você estiver pronto, uma força maior o levará à Pró-Vida"); E há quem acredite em um pouco de cada coisa, e estes são maioria, é o que chamam de "sincretismo". É há os que crêem na desesperança, pois são céticos e acreditam no que vêem, e desesperança é fácil de ver e de encontrar.

Todos buscam o "re ligare" - todos querem que algo antes "ligado" e agora separado, que formem novamente o todo de antes. E formar o Todo, é tudo, é voltar a Deus, é voltar ao útero. É aquele objetivo obsessivo do androide do filme "A.I.", a angústia constante do ser programado para amar.

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