terça-feira, abril 08, 2008

Fantasmas de Natal (enviada por e-mail em 22/12/06)

A Época de Natal parece ser uma experiência muito particular a cada um de nós, quer acreditemos ou não nos símbolos e mitos cultuados nessa época. Para mim, o Natal já significou presentes, depois ausências, depois novas presenças, e agora mais ausência. Não sei o que significa a cruz e o homem-deus que, do alto de sua dor e diante da multidão espectadora, tomoupara si, ou redimiu, os pecados do mundo. A eficácia de seu ato é, no mínimo, questionável, uma vez que o mundo peca muito mais hoje do que há 2000 anos, fora todas as barbaridades que, em nome de deus, o homem-homem vem praticando antes e depois do advento do "Massih", o Messias. Natal é alvoroço no comércio, nas festas de confraternização que intercalam as burocracias das empresas, às voltas com verificações de "atingimento" de metas e "carry over" de verbas para tornar possível a conclusão de projetos eternamente inacabados. Natal é o último suspiro das pessoas ante a possibilidade da fortuna e descanso merecidos, e é a esperança da não-pendência, não deixe para o ano que vem o que você pode (se) eliminar hoje. Natal é o descanso das crianças, incansáveis ansiosamente esperando férias, e a busca incessante de presentes que simbolizem amor e que caibam no bolso, de viagens que relaxem e divirtam a todos. A neurose em se divertir tudo em dez ou menos dias, a loucura da família carregando a loucura da família, único espaço onde cada loucura tem sua forma de acolhimento quase que incondicional. Loucura. O fim do ano está próximo, o fim do mundo está à porta. Arrependa-se e CEDA porque nunca mais haverá um 2006, ao menos não em nossa "gestão", não da forma como conhecemos. Nada será como antes. Diante desse quadro, o que deveríamos desejar às pessoas?Desejo a todos que lembrem-se, intensa e verdadeiramente, de suas inocências. Olhar com os olhos da primeira vez. O primeiro cheiro de chuva ea primeira gota de sangue, o primeiro beijo e a primeira lágrima. A primeira dor e a primeira máscara que usamos para esconder essa dor. A primeira Luta em que estávamos absolutamente convictos da causa. O primeiro amor, e a primeira Lua. Somos os Fantasmas que assombram nossas retrospectivas. Toda a vida, toda a dor, todo o sentimento, residem em nós, apenas em nós. Transmitir isso é uma tentativa desesperada de mais vida, de obter algo mais da vida. Memória é do que somos feitos. Memórias são as bases de nossos saltos ao futuro. Lembre-mo-nos de nossa essência, daquilo que nos faz simplesmente sermos homens e mulheres, ao invés de acreditarmos que finalmente matamos o menino-deus dentro de nós. Afinal, Natal é coisa de Criança (e tem gente perdendo a festa). Um Grande Natal a todos, e um Ano Novo, Verdadeiramente Novo de Novo.

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